Você acorda num sábado qualquer. O sol entra pela janela, o celular vibra com uma notificação discreta: seu café preferido está a caminho. Você nem se lembra de ter pedido. Vai até a cozinha e a geladeira lhe lembra: iogurte grego, chocolate amargo, reposição automática. No armário, um aviso: “aquela camiseta que você não usa há meses foi sugerida para doação” e já há uma nova versão no carrinho, pronta para checkout automático. Você respira fundo. Não pediu nada disso. Mas, de algum jeito, tudo faz sentido.
Foi depois de conhecer o conceito de vibe coding, uma abordagem emergente em tecnologia, na qual os sistemas são criados sem código formal, baseados em inferência de contexto e intenção, que me veio o estalo: e se o consumo seguisse o mesmo caminho? E se estivéssemos às portas de um novo paradigma, onde o desejo não parte mais de uma escolha consciente, mas de uma leitura de estado emocional? Assim nasceu a hipótese do vibe buying.
Imagine um cenário em que o consumidor não compra mais por necessidade, nem por impulso: ele consome porque algo vibrou com o seu momento. Porque o sistema entendeu, melhor do que ele mesmo, o que seria bem-vindo naquela hora. Geladeiras que detectam tristeza e encomendam comfort food. Armários que leem padrões de uso e sugerem (ou realizam) substituições. Assistentes que captam sinais de tensão e disparam “soluções emocionais” antes mesmo do pico de estresse. Não se trata de praticidade. Trata-se de uma nova lógica: o consumo por sintonia.
Nesse modelo, a compra não é decisão. É consequência. Não é sobre o que o cliente quer. É sobre o que ele vai querer. A dopamina não vem da conquista, mas da antecipação. A jornada de compra se dissolve. Resta apenas um fluxo contínuo entre estado interno e oferta ajustada. Como um algoritmo que toca a música exata para o humor exato, mas com objetos, experiências, contratos e alimentos.
A reflexão que fica: isso é avanço ou anestesia? Porque ao delegarmos a escolha, estamos também abdicando do desejo como ato humano. Para os negócios, o impacto é brutal. Estratégias baseadas em intenção, funil ou jornada podem simplesmente caducar. A nova disputa será por relevância preditiva. Não vencerá quem oferecer mais, mas quem vibrar melhor com o que o cliente ainda não sabe que precisa.
Então, eu te pergunto: sua empresa está pronta para competir num mercado em que a intenção já não importa? Ou vai seguir esperando pelo clique, enquanto o desejo já foi decodificado por outro?
Caio Camargoé especialista em inovação no varejo. *Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo. Imagem: Envato
Caio Camargo é especialista em inovação no varejo, com mais de 26 anos de experiência. Atua como conselheiro voluntário da ACSP (Associação Comercial de São Paulo) e Business Advisor, é palestrante e autor do bestseller "Arroz, Feijão & Varejo".
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