Por muito tempo, meu maior receio no ambiente profissional não eram as metas ou as entregas, mas, sim, a forma como eu seria percebido. Desde o início da minha trajetória, minha orientação sexual e minha maneira de me expressar tornaram-se alvo de julgamentos. O preconceito, muitas vezes silencioso, mas constante, gerou desmotivação. A ausência de acolhimento por parte da liderança e dos times de RH apenas ampliava a sensação de isolamento.
Mais da metade (53%) dos profissionais da comunidade LGBTQIAPN+ conhecem alguém que tenha sido vítima de preconceito, segundo levantamento da consultoria Travessia. Mais preocupante ainda: apenas 8% das lideranças se declaram parte dessa comunidade, de acordo com a consultoria global Great Place To Work (GPTW).
Enquanto parte do mundo avança, certas grandes corporações globais têm retrocedido, abandonando iniciativas e políticas voltadas à diversidade. O ambiente corporativo, no entanto, precisa compreender que inclusão não é formalidade — é estratégia. A diversidade não apenas promove justiça, mas fortalece culturas organizacionais, amplia a inovação e torna as empresas mais resilientes e competitivas.
Para entender seu valor estratégico, basta observar uma das maiores revoluções em curso: a ascensão da Inteligência Artificial. Uma IA treinada com dados homogêneos repete padrões e perpetua vieses. O mesmo acontece com equipes pouco diversas. Quando só um tipo de perspectiva está na mesa, perdem-se criatividade, inovação e conexão com o mundo real. Empresas que integram diferentes vivências ganham resiliência, tomam decisões mais assertivas, constroem marcas fortes e criam soluções eficazes.
E isso vale para todos os “tipos” de diversidade. Um estudo da McKinsey de 2023, com mais de mil empresas em 23 países, mostrou que organizações com maior diversidade étnica e racial tiveram uma lucratividade 39% superior às menos diversas. O mesmo se aplica à diversidade de gênero: equipes com maior equilíbrio entre homens e mulheres também superaram as outras em desempenho financeiro.
Quando genuínas, práticas de diversidade, equidade e inclusão reduzem vieses inconscientes e aproximam empresas de públicos que se sentem representados. Essa pluralidade é ainda mais estratégica em áreas como marketing, onde entender nuances sociais e culturais é essencial para criar experiências relevantes, consistentes e responsáveis.
Para líderes que desejam promover mudanças reais, compartilho aprendizados da minha trajetória: diversidade começa no recrutamento, se sustenta em políticas claras, cresce com ambientes seguros e se consolida com escuta ativa. Incluir é também criar espaços onde as pessoas se sintam à vontade para denunciar o que não vai bem — e saibam que serão ouvidas com seriedade.
Hoje, olho para minha jornada com orgulho — e responsabilidade. Acredito em um futuro em que a diversidade será intrínseca às decisões de negócios, e não apenas lembrada em datas comemorativas. Porque empresas diversas não são só mais justas: são também mais inteligentes, preparadas e humanas.
Na Adyen, tenho senso de pertencimento. E hoje, vejo como a diversidade global dos nossos times permite que soluções tecnológicas sejam desenvolvidas com mais empatia e profundidade. Atendemos clientes com diferentes necessidades e expectativas, sempre com um foco inegociável: oferecer experiências seguras, fluídas e inclusivas — para qualquer pessoa, ame quem amar, seja quem for.
Allyson Faria é VP de Marketing da Adyen e membro e líder do Conselho de Diversidade, Inclusão e Cultura no WTC.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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